28.10.08

Gosto Tanto de Ti

Ela não sabia o que me responder. Nitidamente embaraçada mas sem perder o porte altivo que sempre a acompanhava e lhe conferia um estatuto diferente de todas as outras mulheres que conheci, levantou-se. Antes de sair, num timbre de voz imperturbável disse-me:
- Se me quiseres encontrar sabes onde me procurar.
Levei a minha atitude até ao fim. Respondi-lhe que o meu número de telefone também continuava o mesmo, até lho relembrei, soletrando dígito a dígito. Conforme ia pronunciando os algarismos que compunham o meu número de telefone, na minha cabeça ia-se formando a convicção de que a estava a perder. E tudo por causa do narigudo! A minha voz, número após número, foi-se sumindo. Foi de tal forma que os dois últimos algarismos já só foram murmurados -6, 8...6 … 6…6…6…6 repeti.
Ela saiu. Aguardei sem nada fazer seguindo-a com o olhar. Convenci-me que ela não tinha coragem para me abandonar ali, daquela maneira. Ao passar pela porta parou. Eu libertei o ar que tinha aprisionado no meu peito. Voltei a respirar. Ela estava ali parada diante da porta de costas para mim. Ela tinha reconsiderado. Que alívio! Não consegui disfarçar uma alegria interior que se manifestava nos meus olhos que não mentem. Eu não a tinha perdido. Ela amava-me! Amava-me! Sempre soubera que sim. Lentamente virou o rosto, o lindo rosto que tinha. De cabeça baixa olhou em direcção da mesa do canto, onde eu permanecia e onde sempre havíamos tomado, ela, um café, eu, um chá preto. Olhou-me duma forma que eu não lhe conhecia. Vejo-lhe o verde dos olhos. Os lábios dizem qualquer coisa que não percebo e num apressado e único passo de gigante, saiu.
Só e na mesa do café do costume, verti a primeira lágrima das muitas que viria a chorar mais tarde. Na recordação dos olhos dela li agora, adeus!
Não consegui sair dali. Eu queria ir atrás dela mas não consegui. Sentia-me como se tivesse mil quilos, não me conseguia levantar da cadeira. Ela tinha de voltar! O nosso amor... o meu amor, tinha de ser superior a uma birrinha estúpida de quem está simplesmente loucamente apaixonado. Tinha de ser! Eu sabia que a qualquer momento ela ia entrar por aquela porta e pedir-me desculpa. Eu sabia! Ela amava-me! Eu amava-a! Não nos podíamos separar assim, a nossa história não podia acabar mal. Todas as histórias de amor acabam bem. As princesas boas casam com os príncipes encantados, vão viver para magníficos castelos de duas torres, onde têm muitos filhos e vivem felizes para sempre. Eu naquele momento, não desejava casamento nem filhos nem castelos com muitos criados, só a queria a ela. Enquanto esperava pelo seu regresso montada num cavalo branco, peguei na caneta, num guardanapo de papel fino e escrevi o que não tive tempo, nem coragem de lhe dizer:

As coisas que eu tenho!
Tenho tantas coisas, mas o que mais queria não tenho!
Tenho uma camisola vermelha quase rota, com que costumo dormir de Inverno, um disco que nunca ouvi e outro, com que quase sempre adormeço.
Tenho um sinal no queixo que me irrita, a fotografia de um gato preto que morreu de velho e guardo na carteira ao lado do B.I.. Tenho saudades do gato, pena de mim e dores nos joelhos quando muda o tempo.
Tenho saudades da chuva quando é Verão, do sol quando faz frio e de que gostem de mim como eu gosto de ti.
Tenho um álbum de fotografias de amigos que vejo quase todos os dias e vontade de rir quando me revejo nelas. Sofro da doença de gostar e tenho medo.
Tenho dores de cabeça quando penso em ti e não te vejo e, tenho dores de cabeça quando estou contigo e tu não dizes que gostas de mim. Tenho uma torradeira que não funciona e uma coluna de som na casa de banho, para quando tomo longos banhos de imersão. Tenho muitos amigos que gostam de mim, outros tantos que nem por isso, e a dúvida de que alguém goste de mim como eu gosto de ti.
Tenho uma casa pequenina com uma janela grande na sala de onde se avista o Tejo, um quadro na parede pintado por mim, que nunca assinei e um galo de Barcelos em cima do baú onde guardo as mais gratas recordações. Tenho bons princípios e uma cama quase sempre vazia. Tenho sonhos eróticos de vez em quando e uma tablete de chocolate amargo na gaveta da mesa-de-cabeceira, para comer nos dias em que tenho insónias. Tenho um livro que nunca acabarei de ler e outro que já li 3 vezes. Tenho uma paixão por azul, embora também goste muito de verde. Tenho um carro que anda, uns lábios carnudos e uma mãe encantadora que raramente vejo e me telefona sempre nas horas em que estou carente de afecto.
Tenho tanta coisa a que não ligo nem pedi, e o que mais quero não tenho!
Tenho pena de mim por ser quem sou, por um dia ter permitido ao meu coraçãozinho grande, encher-se de alegria por te ver. Tenho saudades de ser quem fui e desejo de te ter sempre aqui ao pé de mim. Mas sei que não pode ser! Porque tu... Tu tens mais que fazer do que gostar de mim como eu gosto de ti.
Gosto tanto de ti!
(excerto de "O meu amor é uma cabra" de MC 1996)

27.10.08

Projecto "Mulheres e o Cancro da Mama" - 2º encontro

Foto: Tó Vieira

Ontem, Domingo, realizou-se o 2º encontro do projecto “mulheres” com broas (obrigado Cristina) Pão de Ló (obrigado Cinda) café e entrevistas para o Correio da Manhã! Este projecto começa a chamar a atenção da comunicação social, o que aumenta em muito a nossa responsabilidade. Primeiro a visita do Jornal Expresso – no Domingo passado - agora o Jornal Correio da Manhã, e ainda vamos só no segundo encontro.
Foi bom receber a visita de caras novas. Refiro-me à Cinda – que veio de Ovar com o seu maravilhoso Pão de Ló e um presentinho muito simpático que fez questão de oferecer a todos. A querida Lou, que brevemente regressará a Angola, sua terra, uma vez que está no fim dos tratamentos que ainda a vão prendendo por cá.
Neste Domingo, tivemos assistência pela primeira vez, o que ao principio – confesso - me estava a deixar um bocadinho nervoso, mas passou logo!
Ontem percorremos todas as fases da doença, desde a descoberta, passando pelas primeiras consultas, a operação, os tratamentos, enfim, por todas as etapas do cancro. No fim dos vários testemunhos, definimos o ponto de partida daquele que será o “esqueleto “ da peça a apresentar no fim destes encontros de tons rosa – que, como já se percebeu naquelas conversas, tem muitas outras tonalidades, às vezes propositadamente escondidas! Umas mais carregadas outras nem por isso.
Até definirmos o alinhamento final, muita coisa vai ser experimentada, abandonada e ou adicionada. É bom podermos discutir o que cada um gostaria de ver ali retratado, mas melhor ainda, vai ser quando conseguirmos superar aquelas que se apresentam agora, como dificuldades. Existem muitos desafios ali. E são esses múltiplos desafios, que fazem deste projecto algo tão único e especial. A ideia não é relatar na primeira pessoa o testemunho de cada uma das participantes. Isso faz-se um pouco por todo o lado, quer na net, através de blogues, sites, quer nos encontros e ou sessões de esclarecimentos sobre a doença, que felizmente se vão fazendo um pouco por todo o lado. Mas a nós, é-nos exigido um pouco mais que isso! A “peça” a apresentar dirige-se a um público muito diversificado, e não exclusivamente para quem foi, directa ou indirectamente apanhado por esta doença. Pelo que a linguagem utilizada terá de ser mais teatral, mais trabalhada do que uma mera, mas sempre difícil exposição da nossa intimidade. Este é o nosso desafio! Como o vamos agarrar e superar, ainda não sei. O que sei neste momento é que está tudo em aberto, e que conto com a generosidade e empenho de todas as que se dispuseram a entrar neste projecto para me ajudarem a transformar as dificuldades de cada uma, em oportunidades de nos superarmos a nós mesmos, e quem sabe, ajudar, esclarecer alguem que passa ou poderá vir a passar pelo mesmo! Este sim será o objectivo final deste projecto que já não me deixa dormir.
Durante duas semanas vamos interromper os encontros de grupo, para nos podermos dedicar ao texto e descoberta do que cada uma, quer colocar de seu ali. Retomamos os trabalhos a 16 de Novembro, espero que cheios de vontade de fazer o que parece impossível! Porque o melhor… o melhor ainda está seguramente para vir.
Até lá!

RG
Este Domingo por quem lá esteve:

Casting - " Dog Family" banda residente do "Quem Não Tem Cão" procura vocalista!


21.10.08

Tons Rosa - Projecto "Mulheres e o cancro da mama" - 1º encontro


Beta, Cacilda (minha Frô), Nela, Cristina, Carla, Alda e Rosa.
Eu gostava de escrever muitas coisas sobre o 1º encontro do projecto "mulheres" que aconteceu este Domingo passado, mas neste momento não sei o que escrever. Eu queria que todos tivessem tido a oportunidade, que eu tive, de assistir a tudo o que se disse e passou ali.
Sei que tudo o que possa escrever aqui, será sempre pouco e muito redutor, face à grandeza das experiencias e emoções que ali se partilharam. Afecto, humildade, disponibilidade, solidariedade e amor. Uma forma de amor diferente. Um amor que não se explica mas sente nas palavras e nos olhares. Uma cumplicidade.
Estas mulheres revelaram ser muito especiais e mostraram isso sem medo ou pudor!
Ali, naquele palco preto e mal iluminado, estas mulheres apresentaram-se nuas, sem defesas!
Apresentaram-se como são de verdade. Completas!
Eu estou muito orgulhosos de as ter conhecido e de me terem permitido participar neste momento!
Obrigado de verdade.
RG
Este Domingo por quem lá esteve:

16.10.08

O PALCO

Para quem ainda não se apercebeu, o nosso palco já não parece o mesmo!
Retiramos a enorme tela, ganhamos espaço. Limpamos, varremos e retiramos muitas caixas de papelão, pó e lixo que estavam ali há muitos anos. Na Segunda Feira o Alexandre e o Gonçalo, acabaram o que já haviamos começado no Sábado. É bom entrar ali e ver que alguma coisa muda/melhora todos os dias. Cada semana que passa alguma coisa se transforma por ali. O nosso palco está (agora) pintado de preto e isso faz muita diferença! Obrigado Alex e Gonçalo pela ajuda com os pinceis e rolos. A tinta preta não foi barata - nada mesmo - mas foi um bom investimento. O palco ficou mesmo bom!
Agora só falta arranjar o chão... depois luzes, focos, projectores... depois equipamento de som...depois... depois... depois...!!
Falta tanta coisa ainda!
Alguem pode ajudar e informar onde se encontra este equipamento a bom preço?
É que dinheiro, ao contrario dos sonhos, não abunda por aqui!
RG

15.10.08

RG integra júri da 2ª Edição do Concurso Melhor CCD, enquanto elemento avaliador da actividade dos CCD’s na área do Teatro.

Sem tempo para dormir... mas feliz!

Estas últimas semanas tem sido muito loucas!
Muita coisa boa está a acontecer no seio desta família.
Muitos projectos - que é preciso por em andamento - muito trabalho de planificação, organização... definir (de uma vez por todas) os horários dos novos cursos, contratar os formadores, continuar a politica de fazer novos associados, preparar os encontros do projecto "Mulheres", preparar as aulas do V Workshop de iniciação ao teatro, fazer pagamentos e depósitos bancários, muitos telefonemas, e-mails, pensar na "decoração" e manutenção do nosso "Teatro do Cão", reunir com a banda residente, reunir às 4as Feiras com os veteranos... descobrir quem são os actores que vão integrar o elenco na peça infantil - que já está escolhida... Enfim muita actividade! Sobra (muito) pouco tempo!
Para além disto - e tão ou mais importante que isto (já nem sei bem) - há um escritório, reuniões, julgamentos, preparar acções e requerimentos, sessões de formação noutras áreas que não o teatro - se bem que esse está sempre presente - uma mãe, amigos e restante família!
Estou sem tempo para dormir... mas ainda respiro e estou feliz, porque continuo a acreditar que tudo isto vale a pena!
Hoje vou tentar aproveitar a ida a Lisboa, para fazer uma coisa que ando a adiar faz demasiado tempo... e não é vaidade ou desleixo... é falta de tempo
mesmo!
RG

14.10.08

Agenda da semana e nota.

Aula do V Workshop
Foto: Joaquim Machado
*
- 4º Freira -15.10.08 - 21.00h - veteranos no "Teatro do Cão"
- 5ª Feira - 16.10.08 - 20.30h - iniciados V workshop - "Teatro do Cão"
- Domingo - 19.10.08 - 14.30h - projecto "Mulheres" - "Teatro do Cão"
*
Nota: Os habituais encontros dos veteranos nas próximas 4ªs Feiras, dias 15, 22 e 29 de Outubro e 5 de Novembro, são, excepcionalmente no "teatro do Cão". A partir desta data, retomamos ao Cineteatro de Rio Maior.
RG

13.10.08

Já temos computador!

Auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
Ob. C.J.

12.10.08

Emoções em tons "Pink"

Hoje foi o meu ultimo domingo a Azul. A partir de hoje e durante alguns meses, os meus Domingos vão passar a ser inteiramente em tons rosa. Tudo em pink!
19 de Outubro, 14.30h, começam os encontros do "projecto mulheres" no "Teatro do Cão".

Eu estou muito ansioso por conhecer estas mulheres e começar a trabalhar com elas. Saber o que pensam, o que sentem, o que as faz rir e chorar!

Estou optimista com este projecto, mas também assustado, confesso! é que este é um desafio dos grandes, não só para as mulheres que aceitaram participar neste "laboratório", mas também para mim! É a primeira vez que vou trabalhar com um grupo só no feminino e, com a particularidade de todas terem passado pela experiencia dramatica de terem sofrido cancro da mama.

Ninguem fica igual depois de passar por uma experiencia de vida destas.

Nos próximos Domingos eu sei que vou aprender imensas coisas. Coisas que neste momento nem consigo imaginar! Coisas que, mesmo que queira, nunca vou conseguir compreender... viver é sempre diferente de ouvir.

Espero estar à altura do desafio e das expectativas delas. Espero que os próximos Domingos sejam para todos os que participarem neste projecto, dias de alegria e paz, onde reine a boa disposição, solidariedade, compreensão e muita amizade. É fundamental aceitarmo-nos, gostarmos de nós e dos outros para que dê certo.

A vida nem sempre é justa ou generosa. Mas o teatro!... O teatro é só uma reprodução da vida! Com a vantagem de que quem escolhe os finais (felizes) somos nós!


RG



10.10.08

Primeira Aula



Fotos: Tó Vieira
Ontem tivemos a 1ª aula do V Workshop de Teatro promovido pelo "Quem Não tem Cão-oficina de artistas". A partir das 20.30h uns após outros, lá foram chegando os candidatos a actores. Entre águas, conversa e cafés, a surpresa inesperada da noite! A visita do Sr. Presidente da Camara - Dr. Silvino Sequeira - e do Dr. Carlos Nazaré - Vice Presidente - à nossa casa, a convite de RG - ou seja, eu próprio :o)! Foi simpatico ve-los ali e terem aceite o nosso convite para beber um café e conhecerem o nosso novo espaço.
Com um ligeiro atraso a aula começou. Eu gostei do grupo. Claro que e como é normal, estão todos um pouco inibidos ainda, mas o que importa é que se nota uma grande vontade de fazer bem e de cumprir com os exercicicos propostos. O tempo e o empenho fará o resto. É preciso é insistir e não desmotivar. Persistencia meus caros...persistencia!
Enquanto decorria a aula no palco com os iniciados, os veteranos que estavam de serviço ontem - Alexandra, Joaquim, Manuel e Maria João - aproveitaram o tempo para avançar com alguns trabalhos administrativos. Temos tanta coisa para organizar! Aiii!
Eu gostei da noite de ontem.
Gostei da aula. Espero que os alunos também!
5ª Feira às 20.30h há mais!
Até lá ou antes disso, se quiserem dar uma ajuda a pintar e ou a limpar, podem aparecer no sábado a partir das 14.30h.
Eu vou lá estar!
RG

9.10.08

Olha nós!

http://www.riomaiornoticias.com/index.php?news=256

É bom ver a familia crescer

Bruna Bento, Otilia Germano, Maria da Luz, Ana Apolinário, Rita Madeira, Joaquim Machado e Daniel Apolinário, são alguns dos actores que frequentaram o I Workshop de Teatro - à descoberta do Actor.
Estes foram os nossos primeiros actores... Os primeiros que decidiram inscrever-se na formação e ousaram apresentar-se num espectaculo - exercicio final de curso - como "Quem Não Tem Cão - Oficina de Artistas".
Depois destes muitos outros já fizeram os nossos cursos e se apresentaram nos nossos espectáculos. Alguns fizeram a formação e foram desaparecendo, outros estiveram connosco e partiram em busca de outros projectos, outros sonhos, outra forma de viver o teatro.
Outros houve, que se apaixonaram por esta arte e continuam por aqui a aprender e a partilhar o que já aprenderam. Hoje, "Quem Não Tem Cão" pode orgulhar-se de ser já uma grande familia com fortes laços de amizade e cumplicidade entre si. Actores, formadores, encenador, técnicos, anónimos, frequentadores do Blog, fãs, público em geral... enfim, muitos!
Hoje vamos ter a 1ª aula do V Workshop de Teatro. Muitas caras novas, novos desafios, novos projectos! Cada um tem uma motivação diferente para estar ali. A minha é continuar a alargar esta familia, dar a conhecer este projecto de amor incondicional pelo teatro e pelo prazer de estar em palco.
É bom ver a familia crescer.
Até logo, 20.30h no "Teatro do Cão"
RG

6.10.08

É bom ver as luzes acessas

Foto: RG
Foto: Paulo Azevedo

Muita coisa está a mudar por aqui!

No sábado lá estivemos a limpar, desmontar e a arrumar. O palco ganhou espaço, e perdeu pó! Retiramos muito lixo e também a estrutura de ferro que servia de suporte à tela de projecção. Conseguimos ganhar assim algum espaço no palco, o que vai ser bom para os exercicios de movimento do(s) curso(s) de teatro. Sim digo cursos porque em principio teremos de dividir o grupo do V Workshop de Teatro em dois, uma vez que apareceram muitos candidatos e não dá para trabalhar com grupos tão grandes. Foi bom ver tanta cara nova - na aula zero - interessada no nosso projecto e em aprender e fazer teatro. Foi melhor ainda ver, que alguns dos que apareceram na aula zero já vestiram a camisola e no sábado lá estavam de pano e vassoura na mão a dar uma ajuda. E que ajuda! Obrigado Elisabete e Ana Alexandra.

4º Feira voltamos - os veteranos - a encontrar-nos no Cine Teatro de Rio Maior, pelas 21.00h e na 5º Feira, pelas 20.30h, vamos ter a nossa primeira aula do Workshop com os iniciados, no nosso "Teatro do Cão".

É bom ver gente a entrar e a sair daquele edificio. É bom ver as luzes acessas ouvir barulho e sentir que se respira e ri ali dentro. É bom receber a visita de alguns curiosos que nos perguntam o que vamos fazer ali. É bom ter o apoio dos nossos amigos e sentir que eles torcem por nós.

E é muito bom acreditar que isto é só o principio, porque o melhor, o melhor ainda está para vir!
RG

3.10.08

RIR...

Desde o primeiro dia da criação deste blog, que temos recebido muitos comentários simpaticos e de incentivo ao nosso trabalho. É bom ouvir a vossa opinião, o carinho demonstrado e o apreço pelo que, à custa de tanto esforço, vamos conseguindo fazer, degrau a degrau. Mas alturas houve em que a minha caixa postal ficava cheia de comentários carregados de malicia e ofensas, quer a mim, quer aos que ousam sonhar comigo. Claro que nunca publiquei esses comentários, por ridiculos e destabilizadores que eram. Claro que nunca partilhei estes comentários com nenhuns daqueles que eles visavam ofender. Granto que recebi muitos que fariam corar qualquer um, e que jamais publicarei aqui.
Qual a intenção de quem se dá ao trabalho de entrar no BLOG e escrever tais coisas... ainda hoje não consigo perceber. Que mal podemos fazer? Afinal só queremos fazer teatro! Que perigo representamos? Temos inimigos? São tudo questões para as quais não tenho resposta! Mas duma coisa eu sei, hoje, ao limpar a minha caixa postal, reli muitos desses comentários e o engraçado é que - ao contrario do que acontecia na altura - hoje eu ri muito! Mas ri mesmo muito e fiquei feliz por isso. Pela capacidade que tivemos sempre, de das dificuldades criar oportunidades e nunca deixarmos de acreditar em nós!
Viva O Teatro!
Viva Quem Não tem Cão!
Viva Nós e os que nos querem bem!
Aqui ficam alguns dos comentários que "dá" para publicar. Muitos mais ficaram guardados na minha caixa postal.
RG
Piranha deixou um novo comentário sobre a sua postagem "10/10/2006 06:43:00 PM": PNR - Partido dos Nudistas Revoltados!!! Será que não falta ai mais ninguém??? Onde ficou o cão??? ão-ão-ão... Onde esta o lider?? Provavelmente de fato e gravata!
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Tento na Língua deixou um novo comentário sobre a sua postagem "III WORKSHOP "À DESCOBERTA DO ACTOR""
Sessões espirítas, uma orgia ou um planário sindical?? REVOLTA AO PODER LOCAL!!! desimaginem-se senhores, nem a àgua do Bocage vos ajuda! Vão lavar a língua. CULTURA?! TEATRO?! tenham respeito ao próximo! QUE DEUS VOS PERDOE porque não sabem o que fazem!
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Devil deixou um novo comentário sobre a sua postagem : Imaginei-me num autentico manicómio, espectacular! lembram-se do filme "Voando sobre um ninho de cucus", a vossa peça diria que era "voando sobre um monte de merda"! Desculpa qualquer coisinha, isto é o que me vai na alma. Encenador PAZ À SUA ALMA!

INCOMODADO! deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Magia de uma noite de Verão no Bistro III": MAS ESTA TUDO BEBADO OU QUE?? ACORDEM PARA A VIDA, VAMOS MAS É TRABALHAR, COIRÕES!!! SÓ SABEM E MAMAR JANTARES, DEVEM PENSAR QUE AS PESSOAS NAO TEM MAIS NADA PARA FAZER, A ALTAS HORAS DA NOITE AINCOMODAR OS QUE QUEREM DORMIR. SINCERAMENTE, TA TUDO PARVO! BARDAMERDA PARA VOCES TODOS...CHAMAM A ISSO CULTURA, IR PARA OS BARES A ACTUAR QUE NEM ANORMAIS! EMPLASTROS

2.10.08

Hoje vou dormir feliz


Ontem foi um dia Feliz!
Ontem vimos pela primeira vez a nossa nova casa arrumada. Cheirinho a limpo, cadeiras e mesas no sitio, louça nova para o café, e gente. Ontem já tivemos "gente" na nossa casa. Recebemos a visita de alguem especial. De alguem que tem sido excepcional connosco: o Dr. Jorge, proprietário do Cinema Casimiros. Foi bom ouvir o que ele nos disse. Foi bom rirmos com ele. Foi bom escutar que acredita em nós e que ficou aliviado quando viu a cor escolhida para as paredes. Até nos fez rasgados elogios à decoração, confessando o seu receio quando lhe dissemos que iamos pintar as paredes! É bom poder ficar sentado a falar de banalidades, projectos e de futuro sem a pressa de ter de sair. É bom estar com aqueles que acreditam neste projecto. E foi muito bom ouvir a voz, de alguem que estando tão longe - S. Paulo - ligou na hora certa para "cantar" e nos dar força para este ambicioso sonho! É sempre bom ouvir a voz daqueles que nos inspiram com o seu trabalho, com o seu amor e dedicação ao teatro e com a sua amizade. Obrigado Ivam Cabral.
Ontem já fizemos alguns exercicios no palco para nos habituarmos ao espaço. Foi bom abraçar, exibir sorrisos abertos e partilhar afectos. É bom voltar ao Teatro!
Quase melhor que tudo isto, só mesmo a surpresa da Claudia que chegou com um bolo para partilhar connosco a alegria de mais um aniversário!
Para a Claudia muitos parabens!
Para todos nós... felicidades e sorte neste espaço que se quer de todos os que dele fizerem um pouco a sua casa também!
Amanhã um novo dia, um novo desafio - o inicio do V Workshop de Teatro promovido pelo Quem Não Tem Cão - Oficina de artistas.
Mas isso é amanhã... porque hoje... hoje vou dormir feliz!
RG

1.10.08

Fetiche


- Gosto de ti. Gosto do teu corpo, dos teus olhos, do teu nariz!. Não sabes quanto eu gosto do teu nariz! É grande, dá-te personalidade. Não resisto a um nariz grande, excita-me! não sei porquê. - Disse-me.
- Não me digas que tens uma fixação por narizes grandes? Perguntei-lhe.
- É mais que uma fixação é um caso de “fetichismo” puro!
Respondeu-me ela a rir.
- A minha lindinha tem um fetiche por narigudos. Obaaa! Obaaa! o meu é de generosas dimensões... Tens um fetiche pelo meu nariz? Perguntei.
- Não sei…acho que sim. Há quem se excite com peças de roupa intimas, com pés, com odores, eu excito-me com narizes. Um nariz é uma marca de personalidade, e além disso, quando bem usado pode fazer milagres. Acrescentou ela com alguma malícia, apontando para o meu!
- Que disparate! Começo a levantar algumas dúvidas acerca da tua sanidade mental. Corei.
- E tu ? qual é o teu fetiche? Perguntou-me.
- Assim de repente não estou a ver… sei lá…acho que não tenho…
- Não pode ser, todas as pessoas têm um fraquinho qualquer, uma peça de “lingerie”, fazer amor num local público, um par de sapatos, qualquer coisa!...
- O meu fetiche acho que és tu! És tu que me excitas! Nada me excita mais que tu!
- O quê?
- Tu és o meu fetiche! Pões-me de cabeça louca, és a única pessoa que me põem fora de mim…
- Sim sim! Ok! Respondeu ela com desinteresse. Tens uma imaginação inesgotável. Definitivamente! Isso não é fetiche coisinha!
Eu odiava quando ela me tratava por "coisinha". Tão redutor… ela dizia que era uma forma carinhosa de me tratar. Eu aceitei.
- Mas é bom ouvir…. Gosto! É sempre lisonjeiro uma mulher ouvir isso... “Tu és o meu fetiche” repetiu ela imitando a minha voz. sorriu.
- Mas porquê essa tua fixação por narizes grandes? - Perguntei-lhe. Foi então que me explicou que em tempos tinha tido um namorado, um rapaz segundo ela de fraca figura, pequeno, magro e de pele esverdeada, mas possuidor de um enorme nariz que quase lhe chegava ao queixo. Como se fosse um bico que lhe inrrompia do rosto. Foi aquele rapaz de fraca figura e nariz fino e agudo que a fez atingir o “climax” pela primeira vez.. Não se cansou de o elogiar nem as habilidades que ele fazia com o nariz. Fiquei magoado ao ouvir aquilo. Sem nada para dizer calei-me.
- Então não dizes nada? - Perguntou ela.
- Tinhas mais prazer com ele do que comigo? - Perguntei-lhe eu estupidamente. Ele era melhor que eu? - Insisti. Hoje sei que esta é uma pergunta que nunca se deve fazer. Nunca devemos pedir que nos comparem com alguém, muito menos em questões de cama. A não ser que tenhamos a certeza da resposta. O que não era o caso. Apesar do meu nariz ser dum tamanho acima da média, a avaliar pela descrição, ele tinha um bem maior e mais habilidoso.
Ainda mal tinha acabado de fazer a pergunta e já me tinha arrependido - coisa que aliás, com ela era frequente - adivinhando que a resposta podia ser diferente daquela que eu gostava de ouvir. Mas a ideia da minha Lindinha estar com outro não me agradava. Embora não o conhecesse, já o odiava. Não suportava a ideia de ter havido outro na sua vida.
Surpresa das surpresas, desta vez ela resolveu poupar-me, respondendo-me somente que tinha muito prazer comigo. Ao ouvir tal resposta senti um reconfortante alivio, contudo a insegurança rapidamente tomou conta de mim. Não consegui evitar:
- Essa foi a forma mais delicada que encontraste para dizer que ele era melhor na cama que eu, não foi? Podes dizer a verdade, não tenhas problemas em me magoar.
- Este foi o meu segundo erro em menos de dois minutos. Respondeu-me que estava a ficar farta de mim, que não aguentava mais as minhas dúvidas existenciais. Falou-me da necessidade excessiva de me comparar com o incomparável, dos meus medos, dos meus traumas, das minhas frustrações, em suma: Que não estava mais para me aturar. Queria umas férias de mim. Desorientei-me!
Implorei para que não me deixasse, prometi que ia mudar, eu queria mudar, tinha de mudar. Não só por causa dela, mas principalmente por causa de mim. O amor que sentia por ela era grande e verdadeiro, e isso é uma coisa rara. Quando se encontra não se deve perder. Mas aquele sentimento já não era só amor, era uma doença degenerativa que me ia matando aos poucos! E ela era a minha única possibilidade de cura. O mais grave é que ela sabia disso! Ela usava isso! Se por um lado eu tinha a certeza de que ela era o grande amor da minha vida, também sabia que ela não me amava como eu a amava a ela.
Éramos diferentes, sentíamos de forma diferente e queríamos coisas diferentes da vida. Tínhamos amigos diferentes, gostos musicais diferentes, diferentes maneiras de exteriorizarmos os nossos sentimentos. Esta luta constante tornava-nos incompatíveis. Se por um lado era a gestão dos mecanismos de combate que nos mantinha acesa a chama da relação, também era esta constante batalha que nos podia levar a deixar de ouvir o coração. Foi o que aconteceu!
Rapidamente adoptei uma estratégia, a única que não podia ter usado.
- Se te queres ver livre de mim podes ir embora. Eu consigo muito bem viver sem a tua presença. Sem a tua companhia. Sem te ter a meu lado! - Respondi-lhe sem vacilar. Ela não estava à espera desta minha atitude. Nem eu! Ainda hoje me pergunto onde fui arranjar forças para dizer tal coisa. Senti-a completamente desarmada.
Foi uma resposta da qual ela não estava à espera. Como iria ela superar aquele teste? Eu sabia que com esta atitude podia perde-la para sempre, mas também tinha consciência que a nossa relação podia sair fortificada. Corri o risco. Tínhamos de esclarecer de uma vez por todas a nossa relação, por muito que isso me custasse, preferia viver sem ela do que andar com constantes crises de insegurança e depressões. Eu afinal só queria uma coisa: Queria que ela provasse que me amava e que eu era o homem da sua vida!
(Excerto de " O Meu Amor é Uma Cabra" de MC - 1996)