A minha querida Lai Lai mudou de casa!
A Lai Lai deixou o seu camarim, o canto onde acumulou recordações de uma vida inteira dedicada ao Teatro.
A Lai Lai está triste e eu também.
Eu queria que as coisas fossem diferentes! Impotente para mudar o mundo fiz o que estava ao meu alcance. Nada de extraordinário, antes pelo contrário, fiz algo pateticamente simples mas cheio de verdade. Coloquei um pedacinho de sonhos num saco de papel pardo e decidi fazer-lhe uma visita de surpresa.
Quando cheguei ao pé dela abraçamo-nos. O nosso olhar dizia o que as nossas bocas calavam. Aquele silêncio incómodo foi interrompido: "Lai Lai hoje vamos fazer o nosso Teatro!"
Abri o saco e dali saiu tudo o precisávamos naquele momento: uma buá amarela, um toucado lilás e uma máquina fotográfica!
Ela mudou imediatamente de expressão e os olhos encheram-se de brilho.
- Mas é para mim? é para eu usar? Posso pôr?
- Claro Lai Lai... trouxe para si! Hoje vamo-nos divertir...
-Vais-me levar a jantar?
- Claro!
- E vamos onde?
- Onde a Lai Lai quiser!
- Então se sou eu que mando vamos ao sitio do costume... é que lá já nos conhecem!
Sorriu e dirigindo-se ao recepcionista cheia de autoridade disse:
- Está a ver - fazendo pose com a buá enrolada ao pescoço - O meu amigo vai-me levar a jantar. Ouviu?
E fomos. Naquele pedaço de noite aparentemente igual às outras, esquecemos o quanto estávamos tristes e rimos muito. Divertimo-nos, fizemos muitas palhaçadas, tiramos imensas fotos e por momentos fomos crianças muito felizes.
Depois chegou a hora de voltar. Senti um aperto no coração ao passar a cancela de segurança. Ao despedir-me dela, na recepção, percebi que estava contente e isso encheu-me de alegria também. Meti-me no carro e na viagem de regresso à minha casa, ao meu canto, ao meu mundo... percebi a verdadeira importância de uma simples buá amarela e dum toucado lilás. Percebi a importancia de manter vivos os sonhos e a capacidade de sonhar - mesmo que por breves instantes.
Quando se deixa de sonhar é porque já se desistiu.
Sonhar é sempre preciso!
Desistir nunca é preciso!
RG